sábado, 24 de fevereiro de 2007

Pra começar os trabalhos, um breve curriculum

Sergio Millan começou na vida profissional em televisão no ano de 1980, aos 20 anos, na contra-regra de novelas da Rede Globo. Tempo em que as novelas (18, 19, 20hs) eram gravadas nos quatro estúdios da rua Von Martius, nº 22 no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Sem o menor tino para lidar com martelos, trenas, serras e serviços gerais de bombeiro e marceneiro - afinal, contra-regras são pau pra toda obra -, instalaram-no no almoxarifado da C.R.. Daí, o que estava à mão, além dos tapetes, quadros e objetos de cena, eram os roteiros. Assim, Manoel Carlos, Dias Gomes e Cassiano Gabus Mendes, entre outros, foram todos devorados com muita curiosidade - esses mais que os outros. Afastando-se da Rede Globo no final de 1983, foi tocar a fazenda do avô em Mendes, pequeno município do estado do Rio, onde no ócio ficou até 1986. Claro que ócio aqui - assim como lá - é força de expressão. Havia ali umas vaquinhas e uma hortinha pra cuidar... Havia belas paisagens, também... E havia, além das moças da cidade, muitos euclides e joyces, melhor decifráveis, a se devorar. Devorar devorou, decifrar... Mudando de assunto, no retorno ao caos urbano do Rio de Janeiro, Sergio Millan resolve fazer uma faculdade. Ingressou nas Letras, não pelo talento para lidar com elas, mas porque, na atual conjuntura, letras eram o caminho natural para o curso de Jornalismo, profissão palpável. Por incrível que pareceu a ele, seus textos eram lidos com entusiasmo pela então professora de literatura, a escritora Suzana Vargas, e discutidos entre a turma em sala de aula... Manteve a meta. Transferiu-se, no segundo período para o Jornalismo... O que faria, afinal, um homem das letras? Lecionar, escrever livros... Desenvolver sopas culturalmente nutritivas? – deve ter pensado. Já na cadeira de jornalismo, ingressou no Estúdio de VT da então Faculdade da Cidade e começou a trabalhar com as luzes, câmeras e edição, como coordenador do Estúdio. Olha a televisão voltando à vida do rapaz... Ao deixar a Faculdade, atuou na produção independente em várias frentes, inclusive, começando, claro, pelos casamentos, batizados, e quiçá funerais, caso o tivessem contratado. Concomitantemente, trabalhou na Provideo, hoje Prodigital, e prestou serviços, a outras produtoras do Rio. Como freelancer, produziu para diversas empresas: McDonald’s, RFFSA, Cisper, Odebrechet... E foram centenas de institucionais; vídeos-treinamento; comerciais (para pequenas praças) e vídeo-clips (um deles vencedor de concurso dirigido à produção independente, em programação da MTV no ano de 1992). O que viesse, Sergio Millan traçava. Assim, foi ganhando experiência e a vida até achar que era a hora de começar a criar seus próprios roteiros de ficção... Nunca trabalhou tanto. De sol a sol, mesmo. Escreveu algumas dezenas de histórias, mas entrou em crise ao lembrar-se da adolescência, quando quis formar uma banda de rock e escolheu a bateria como instrumento de expressão. Roteiros - concluiu tardiamente - são como a bateria numa banda. Ninguém vê, ninguém lê - necessariamente nesta ordem.

Assim como para viabilizar roteiros é vital gastar uma nota afrodescendente transcendental, bateristas necessitam espaço, proteção acústica, vizinhos surdos-mudos e outras etcéteras mais. Somente com muito diletância, alguém carregaria a bateria, por exemplo, a um acampamento para atacar junto à fogueira, numa rodinha de amigos e gatinhas joviais. Finalmente, a lâmpada do Pardal acendeu (aos 37): “já se fosse uma gaita... Caberia no bolso!... Pela praticidade e som hipnótico, gaita pode ser um instrumento inclusivo, inclusive!”. Porém, aos 37, nem o próprio Toots Thielemans o salvaria aquela alma da fogueira... Está aí. Concluímos a biografia do autor, sugerindo, para a próxima encarnação, que venha de gaita! Cabe na mãozinha de um prematuro, caso queira vir com pressa. E você, leitor, se, à semelhança do auto-biografado, não nasceu com a genialidade ficcional de uma Glória Perez ou a genuína precisão de um Gene Krupa, mas procura na vida o prazer auto-sustentável nas artes, jamais complique o bom combate. Vem pra gaita você também. VEM!